As mulheres passarão, dentro de pouco tempo, a liderar o combate contra o HIV/SIDA e outras doenças de transmissão sexual. Será um combate com uma arma sublime, os microbicidas, cujas características já prenunciam um único vencedor: a espécie humana.
Microbicida é tudo aquilo que mata micróbios. A sua aplicação no campo da medicina já tem alguma história, que começa com a descoberta da penicilina por Flemming, em 1928.
Contudo, a penicilina tem hipóteses praticamente nulas quando se trata de matar o HIV, o vírus que provoca o SIDA. Porquê?
Esta é provavelmente a pergunta que serviria de base para o início de investigações na esfera da aplicação de Microbicidas no combate a doenças transmitidas por via sexual, de forma particular no Centro de Investigação em Saúde da Manhiça, na província de Maputo.
Khátia Munguambe, daquele Centro, explica que o microbicida em investigação será produzido em forma de gel. Este gel funcionará como uma espécie de armadilha que «captura e imobiliza» o HIV ao longo de uma relação sexual.
Quer dizer, antes do acto sexual, a mulher introduz o gel no seu órgão genital. Em contacto com o sémen masculino, o gel actua sobre o HIV, impedindo-o de invadir as células vaginais e, por assim dizer, prevenindo a infecção.
A nível das relações humanas, sobretudo no que diz respeito aos estereotipos relativos à feminização do HIV/SIDA, o microbicida vai reforçar a auto-estima da mulher, pois ela, como garante Khátia Munguambe, «não mais precisará de consentimento do parceiro» e, por tabela, assumirá o protagonismo que merece na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Neste momento, quinhentas mulheres estão envolvidas na investigação do Centro da Manhiça. Os resultados são «animadores» e que «poderão ultrapassar as expectativas» em termos de aceitabilidade do gel por parte da sociedade.
A fase do estudo de viabilidade termina em Outubro. Nos meses seguintes iniciará uma fase piloto de seis meses, ou seja, aquela em que haverá utilização efectiva do microbicida e Khátia Munguambe sublinha que «caso os ensaios clínicos demonstrem uma eficácia de pelo menos trinta porcento», o gel estará à disposição das mulheres em vários locais e a preços acessíveis.
Refira-se que tais ensaios clínicos estão igualmente sendo feitos noutros países africanos, tais como Uganda, África do Sul, Tanzânia e Zâmbia, onde os resultados são «animadores».
O uso do gel microbicidas é importante sobretudo nos países onde se pratica o sexo “seco” e nas zonas onde factores culturais e socio-económicos contribuem para que as mulheres pouco se imponham sobre os parceiros em relação ao uso do preservativo.
Em Moçambique esta iniciativa está a ser implementada pela Fundação para o desenvolvimento da Comunidade e pelo Centro de Investigação em Saúde da Manhiça, com o apoio da Medical Research Council da Inglaterra e da Fundació Clínica, da Espanha. O mesmo tem um financiamento garantido de cerca de 1 milhão de euros, desembolsados pela European Development Clinical Trials Partnership, Cooperação Espanhola e International Paternship on Microbicides e pelo DFID.